minhas músicas

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

                       Odeio

Odeio o imprevisto.


De repente uma tontura repentina. Perco a visão por instantes. Deixo de ouvir. Caio por terra qual baralho de cartas.

Perdi as forças nos músculos, perdi a energia da alma.

Fecho os olhos e desapareço durante alguns momentos que parecem horas.

Batem-me na cara, agitam-me violentamente, fazendo-me reaparecer em mim. Sinto um frio estranho percorrer pelo meu corpo, estremeço e acordo.

Dizem-me que desmaiei como um passarinho de asa quebrada.

Tudo o que me lembro é de algo escuro como breu, como se tivesse sido engolido por um buraco negro. E eu venero o breu da noite, porque a noite pode ser muita coisa, pode ser um castigo ou pode ser um bálsamo, e já foi tudo isso no meu universo. Tanta incerteza que viver é ambiguidade.

E na dubiedade nocturna eu afastei-me das luzes e corri despido de roupa pelas ruas de pedra dura e fria corri a noite toda às voltas tentando evitar os caminhos dos meus receios, ambiguidades e dúvidas.

Odiei esse dia, senti que o tempo me ultrapassou sem pedir passagem.



Desde esse dia sofro e odeio o sofrimento que sinto por odiar os meus sentimentos.

Odeio em vários momentos perder o controlo da minha razão quando esta é superada pelo meu lânguido coração.

Odeio perder as rédeas dos meus pensamentos que correm livres como o vento rebelde para ilusões que só me farão sofrer.

Odeio ficar impotente perante sentimentos que avançam em mim como um vírus desenfreado que me ataca o corpo por inteiro.

Odeio frases-feitas de argamassa de moral mal misturada.

Odeio encontros ao acaso e desencontros planeados.

Odeio olhares que se cruzam no meio da multidão.

Odeio palavras de afecto e gestos de repulsa.

Odeio não gostar de mim, mesmo sabendo que sou um ser inteligível.

Odeio mudar de humor conforme as fases da lua e as agitadas marés do mar encrespado.

Odeio guardar o desassossego no bolso traseiro das calças e ter asas que me levam apenas até às nuvens.

Odeio andar ao ritmo da vida.

Odeio neste momento andar ao ritmo de decisões alheias.

A mudança é sempre complicada de gerir, mesmo que seja para melhor... ou daí, talvez não.

Odeio saber que mais uma vez irei sofrer e que nada consigo fazer para o evitar.

Odeio sofrer, odeio amar.

Odeio, nesta fase da minha vida misturar ódio e amor.


  " por mim como se fosse minha amiga amiga "

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