Odeio
De repente uma tontura repentina. Perco a visão por instantes. Deixo de ouvir. Caio por terra qual baralho de cartas.
Perdi as forças nos músculos, perdi a energia da alma.
Fecho os olhos e desapareço durante alguns momentos que parecem horas.
Batem-me na cara, agitam-me violentamente, fazendo-me reaparecer em mim. Sinto um frio estranho percorrer pelo meu corpo, estremeço e acordo.
Dizem-me que desmaiei como um passarinho de asa quebrada.
Tudo o que me lembro é de algo escuro como breu, como se tivesse sido engolido por um buraco negro. E eu venero o breu da noite, porque a noite pode ser muita coisa, pode ser um castigo ou pode ser um bálsamo, e já foi tudo isso no meu universo. Tanta incerteza que viver é ambiguidade.
E na dubiedade nocturna eu afastei-me das luzes e corri despido de roupa pelas ruas de pedra dura e fria corri a noite toda às voltas tentando evitar os caminhos dos meus receios, ambiguidades e dúvidas.
Odiei esse dia, senti que o tempo me ultrapassou sem pedir passagem.
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Desde esse dia sofro e odeio o sofrimento que sinto por odiar os meus sentimentos.
Odeio em vários momentos perder o controlo da minha razão quando esta é superada pelo meu lânguido coração.
Odeio perder as rédeas dos meus pensamentos que correm livres como o vento rebelde para ilusões que só me farão sofrer.
Odeio ficar impotente perante sentimentos que avançam em mim como um vírus desenfreado que me ataca o corpo por inteiro.
Odeio frases-feitas de argamassa de moral mal misturada.
Odeio encontros ao acaso e desencontros planeados.
Odeio olhares que se cruzam no meio da multidão.
Odeio palavras de afecto e gestos de repulsa.
Odeio não gostar de mim, mesmo sabendo que sou um ser inteligível.
Odeio mudar de humor conforme as fases da lua e as agitadas marés do mar encrespado.
Odeio guardar o desassossego no bolso traseiro das calças e ter asas que me levam apenas até às nuvens.
Odeio andar ao ritmo da vida.
Odeio neste momento andar ao ritmo de decisões alheias.
A mudança é sempre complicada de gerir, mesmo que seja para melhor... ou daí, talvez não.
Odeio saber que mais uma vez irei sofrer e que nada consigo fazer para o evitar.
Odeio sofrer, odeio amar.
Odeio, nesta fase da minha vida misturar ódio e amor.
" por mim como se fosse minha amiga amiga "
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