minhas músicas

domingo, 21 de outubro de 2012

Só há um modo de escapar de um lugar: é sairmos de nós...

Só há um modo de sairmos de nós : é amar-mos alguém.
 Mia Couto ...



“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: 'Não há mais o que ver', saiba que não era assim. O fim de uma
viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava”. 
José Saramago



Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido!
É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo - para que
faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se
eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia.
A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que
provavelmente pedi e finalmente tive, veio, no entanto me deixar carente como
uma criança que anda sozinha pela terra. Tão carente que só o amor de todo o
universo por mim poderia me consolar e me cumular, só um tal amor que a própria
célula-ovo das coisas vibrasse com o que estou chamando de um amor. Daquilo a
que na verdade apenas chamo mas sem saber-lhe o nome.


paixão


 
"Solidão? O que acontece é que a gente procura os outros para se livrar de si mesma. A intolerável companhia que eu me faço. Preciso dos outros para não chegar àquele ponto altamente intolerável do encontro comigo. Eu sou exatamente: zero. E tanto se me dá. Conselho: fique de vez em quando sozinho, senão você será submergido. Até o amor excessivo dos outros pode submergir uma pessoa.'

“A vida desperta pelos contrastes e diferenças, pela dureza e coragem de viver”.

Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas.



Minha vida foi roubada de mim. Vivo uma vida que não queria”.
Eu estou vivendo em uma cidade que eu não tenho nenhum desejo de viver dentro .. Eu estou vivendo uma vida...Você vive com a ameaça, você me diz que viver com a ameaça da minha extinção.... eu luto sozinho no escuro, no escuro profundo, e que só eu posso saber. Só eu posso entender a minha condição....
Virginia Woolf


 Filme As horas

Faz você repensar muito sobre sua vida...todos temos anseio de vida cabe a nós ...procurar esse caminho..
o que faz vc realmente feliz? 


”Não se pode ter paz evitando a vida”.


“- Pois eu mudava e mudava; fui Hamlet, fui Shelley, fui o herói cujo nome agora esqueço, de um romance de Dostoievski, fui inacreditavelmente, por todo um longo período escolar Napoleão; mas fui principalmente Byron.”


...e lá do fundo de si mesma, após uma momento de silêncio e abandono...Chamo por vós...



Então começou a pensar que na verdade rezara. Ela não. Alguma coisa mais do que ela, de que já não tinha consciência, rezara. Mas não queria orar, repetiu-se mais uma vez fracamente. Não queria porque sabia que esse seria o remédio. Mas um remédio como a morfina que adormece qualquer espécie de dor. Como a morfina de que se precisa cada vez mais de maiores doses para senti-la. Não, ainda não estava tão esgotada que desejasse covardemente rezar em vez de descobrir a dor, de sofrê-la, de possuí-la integralmente para conhecer todos os seus mistérios. E mesmo se rezasse... Terminaria num convento, porque para sua fome quase toda a morfina seria pouca. E isto seria a degradação final, o vício. No entanto, por um caminho natural, se não buscasse um Deus exterior terminaria por endeusar-se, por explorar sua própria dor, amando seu passado, buscando refúgio e calor em seus próprios pensamentos, então já nascidos com uma vontade de obra de arte e depois servindo de alimento velho nos períodos estéreis. Havia o perigo de se estabelecer no sofrimento e organizar-se dentro dele, o que seria um vício também e um calmante.
O que fazer então? O que fazer para interromper aquele caminho, conceder-se um intervalo entre ela e ela mesma, para mais tarde poder reencontrar-se sem perigo, nova e pura?...O que fazer?
O piano foi atacado deliberadamente em escalas fortes e uniformes. Exercícios, pensou. Exercícios... Sim, descobriu divertida... Por que não? Por que não tentar amar? 

Por que não tentar viver? 

Perfeição ...



Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...
Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião...
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade...
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras
E seqüestros...
Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã...
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração...
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão...
Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada...
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta
De bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou
Essa canção...
Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...

Rimbaud..



Eternidade...

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.
 
 
Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível.
Fixava vertigens.
Criei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas.
Tentei inventar novas flores, novos astros, novas carnes, novos idiomas.



De manhã, eu tinha o olhar tão perdido e a postura tão morta, que aqueles que encontrei talvez não me vissem.

Poema em linha reta



Coisas que existem, outras que apenas estão...





A chuva e as estrelas essa mistura fria e densa me acordou, abriu as portas do meu bosque verde e sombrio, desse bosque com cheiro de abismo onde corre a água. E uni-o a noite. aqui junto a janela, o ar é mais calmo. Estrelas, estrelas, rezo...
...Porque não vem a chuva dentro de mim, eu quero ser a estrela. 





Mergulho depois emerjo, como de nuvens, das terras ainda não possíveis, ah ainda não possíveis. Daquelas que eu ainda não soube imaginar, mais que brotarão. ando deslizo, continuo ... continuo... Sempre sem parar, distraindo minha sede cansada de pousa num fim..


...O que importa afinal: viver ou saber que está vivendo!
Tudo que possuo está muito fundo dentro de mim
Perto do coração selvagem 




Se eu desse um grito...imagino já sem lucidez..minha voz receberia o eco igual e indiferente das paredes da terra. Sem viver coisas que eu não encontrei a vida, pois? Mas mesmo assim na solitude branca e limitada onde caio, ainda estou presa entre montanhas fechadas. Presa...presa. Onde está a imaginação? Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade são essas as palavras que ocorrem. No entanto não são as verdadeiras, únicas e insubstituiveis, sinto-o. Liberdade é pouco o que eu desejo ainda não tem nome.
sou pois um brinquedo a quem me dão corda e que terminada esta não encontrará vida própria, mais profunda. Procurar tranqüilamente admitir que talvez só a encontre se for buscá-la nas  fontes pequenas. Ou morrerei de sede.Talvez não tenha sido feita para águas puras e largas , mas para pequenas e de fácil acesso. E talvez meu desejo de outra fonte, essa ânsia que me dá no rosto um ar de quem caça pra se alimentar, talvez essa ânsia seja uma idéia nada mais..Porém os raros instantes que às vezes consigo de suficiência, de vida cega, de alegria tão intensa e tão serena como o canto de um órgão...esses instantes não provam que eu sou capaz de satisfazer minha busca e que esta sede de todo meu ser e não apenas uma idéia? Além do mais a idéia é a verdade!!!
Perto do coração selvagem


“… não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante: sempre fundido, porque então viverei, só então viverei maior do que na infância, serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.”
O nó na minha garganta vai diminuindo. Palavras juntam-se, grudam-se, atropelam-se umas por cima das outras. Não importa quais sejam. Empurram-se e trepam uma nos ombros das outras. As isoladas, as solitárias acasalam-se, cambaleiam, multiplicam-se. Não importa o que digo. Como um pássaro a esvoaçar, uma frase cruza o espaço vazio entre nós. Pousa nos lábios dele.
Do livro As Ondas - Virginia Woolf

Quando for grande, andarei sempre com um bloco de notas, um bloco bastante grande e com muitas páginas, todas metodicamente organizadas por ordem alfabética. Tomarei nota de todas as frases. Na letra B colocarei «pó de borboleta».

Virginia Wool, As Ondas.
Este é o nosso mundo, iluminado por meias- luas e estrelas luzentes, e grandes pétalas semi transparentes fecham as aberturas como janelas roxas...tudo é estranho. As coisas são imensas e diminutas.. Os caules das flores são grossos como carvalhos. Folhas altas como cúpula de vastas catedrais.....somos gigantes aqui deitados, capazes de fazer com que tremam as florestas... do livro As Ondas - Virginia Woolf
.."Não somos gotas de chuva logo secas pelo vento; fazemos jardins rebentar e florestas bramir; nascemos diferentes por toda eternidade"....Virginia Woolf


 O sol nasce e se põe e, em paralelo ao seu trajeto, nasce e se põe também a vida humana, a cada dia, a cada suspiro, a cada convicção jogada fora.




Consome-me, carregue-me até o limite mais distante.. 

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