minhas músicas

segunda-feira, 14 de março de 2011

                                                O R A R

    
Em meio ao finito, imergir em silêncio respeitoso.
Captar no mais íntimo de si a pertença ao transcendente.
Experimentar a gratuidade em um vazio oni-envolvente.
Deixar temperar-se por uma luz interior.
Entregar humana pequenez à divina compaixão.
Encher-se de confiança, priorizando o receber.
Desfazer-se de angústias e abandonar-se ao Deus-Abraço.
Transbordar de confiança ao ser envolvido por libertação.
Superar a estreiteza da lógica e deixar-se invadir por misteriosa paz.
Humilde no vazio de si, entregar-se ao não saber.
Sereno ligar-se a pessoas e coisas em clima de busca-expectativa.
Dispor-se a admirar o que ninguém domina.
Desprender-se do circundante e acolher o ausente.
Fazer de Deus seu confidente, abrindo -se à riqueza ignora.
Dar voz e rosto ao que irradia silêncio.
Revestir o ausente de presença com suave transcendência.
O R A R
Quando oro, ultrapasso as simples aparências.
Capto o imanente como “espaço-tempo” do transcendente.
Orar não pede de mim um rito com palavras.
Antes, é movimento suave de meu coração na cadência do amor que se deixa cativar.
Quando oro, exerço o diálogo e ouso viver com o diferente em mim, ao redor de mim.
Oração me faz navegar em um mar de relações; ajuda-me, ensaiando, para ser uma ilha de paz.
Orar é envolver-me por uma onda de bem-querer.
Qual água na fervura, predisponho-me a equilíbrio em meio a tempestades e desafios.
Orar é envolver-me pelo cotidiano e deixar abraçar-me por um mistério de gratuidade.
Orar não pressupõe passar por carências; basta que busque viver pacificado.
Oro por saber-me entregue ao Todo, acolhendo dádivas tecidas pelo ar que respiro, na jocosidade de uma fé-confiança.
Ao orar, confio-me ao “indeterminado Deus”, absorvo a luz a espargir-se sobre a Criação.
Oro também graças a tantos contrastes, e me abro ao que me cerca e acontece qual oferta.
Quando oro, posso ser como luz que brilha, como vento que sopra, como alegria que dança ou como paz que se dispõe a adiar a solução.
Orar é ser qual nenê que, sorridente, se oferta; é ser vovô a acarinhar limitações que o acabrunham.
Quando oro, supero pressa, domino inquietação e desenho o sorriso de quem está pacificado, muito acima de desejos imediatos.
Oração é vitória na harmonia de sentimentos opostos a se abraçarem no equilíbrio de um sopro.
Quando oro, me disponho a uma serenidade que nenhum esforço é capaz de conquistar.
Orar é colher um equilíbrio que nem parece deste mundo.
Quando oro, deixo conduzir-me por um caminho que se faz bem-aventurança.
Orar é o início, o meio e o resultado de viver solidário na realidade que me envolve.
Quando oro, sinto-me leve e respiro ar renovado.
Oração encurta caminho, aproxima pessoas, pacifica situações.
Orar não carece de livro, terço, nem de lugar determinado.
Oro ao envolver-me por um Mistério que me carrega, me envolve e atrai para que me torne o que sou: aprendiz do bem viver.
No orar, me reconheço eterno aprendiz.

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